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Terça, 20 Agosto 2019 17:23

UTNUBU

UTNUBU poderia ser um grito contrário, pois estamos longe de ter algo parecido com a cultura de UBUNTU UTNUBU poderia ser um grito contrário, pois estamos longe de ter algo parecido com a cultura de UBUNTU

Artista: Ropre – Alessandra Cunha

Na infância sonhava em ter pinturas nas casas de todas as pessoas do mundo. Talvez seja impossível de se realizar, mas a cada dia este sonho se aproxima de ser real, pois Ropre, artista visual, espalha sua arte, em forma de pinturas para várias galerias e museus de inúmeras cidades do país e até para o exterior. Sonho que pode se estender a Roraima, onde será a próxima exposição da artista que deseja que seu trabalho fique em Boa Vista após a exposição. Sendo assim, algumas pinturas ficarão para o acervo da Secretaria de Estado de Cultura e as outras serão sorteadas entre algumas pessoas da cidade.


Para a exposição UTNUBU a artista apresenta uma série de 28 pinturas, de tamanhos; em que cada imagem se caracteriza pelos fragmentos de pinceladas, figuras humanas, costuras, misturas de técnicas e de tecidos diferentes e linhas soltas. Dentro de uma poética do mergulho em uma incansável busca matérica e empírica. O título é uma palavra que não existe. UTNUBU é a escrita ao contrário da palavra UBUNTU, que denomina a filosofia africana que nutre o conceito de humanidade em sua essência. E por sentir falta desta humanidade, Alessandra Cunha, também conhecida como Ropre cria imagens que ponderam entre o que poderíamos ter de fraterno, amoroso, carismático e compreensivo entre as relações sociais e na atual situação política do país.


Nas palavras da crítica de artes Priscila Rampim: “Conforme processa sua rede de referências, Ropre constrói uma narrativa contundente. Apoiada em uma filosofia africana chamada Ubuntu, explicita seu grito por mais afeto, compaixão e aceitação. Ubuntu, em sua essência, diz respeito à cortesia, ao compartilhamento, ao senso de comunidade e à generosidade. Suas pinturas não se limitam às tintas aplicadas ao suporte mas incluem bordados e costuras rústicas, alguns objetos tridimensionais, palavras escritas e colagens. Em seu trabalho, é tão recorrente a crítica e a observação do comportamento da sociedade quanto a mistura de muitos materiais.O trapo de cobertor traz a imediata associação com as mantas que recobrem moradores de rua mas também associam-se ao calor e ao afago. Como resultado datal junção de elementos, a composição é tanto visual quanto tátil... Não só em decorrência do volume mas pelas texturas dos materiais que faz uso. O gesto da mão que lança estrelas para o Universo sem estender a outra para receber algo em troca, como vemos na tela “Ambiente”, é Ubuntu.” 
Por outro lado, uma característica que encanta a artista nesta forma de vivenciar a essência humana é praticada em algumas regiões da África do Sul: Quando alguém faz algo errado é colocado no centro da tribo e cercado pelos demais durante dois dias, como se fosse em uma vigília. E todos falam sobre as coisas boas que aquela pessoa já fez, por acreditarem que todas as pessoas são boas e que quando cometem um erro, estão, na verdade precisando de ajuda para se reencontrar. Acreditam que ao invés de punir e humilhar quem errou, todos o ajudam e fortalecem com palavras e ações afirmativas, positivas, capazes de alterar o comportamento ruim e resgatar a humanidade naquele indivíduo. “E como estamos em uma corrente contrária, escrevo o título ao inverso.” Diz Ropre. Mas, o desejo é de transmitir alguma boa característica da essência da humanidade nas imagens, onde as pinceladas fragmentadas podem representar seres que nos cercam e querem bem. A costura poderia mostrar uma intenção de unir forças e espécies diferentes. Há personagens freqüentando as imagens, isolados, estilizados, como se pudessem estar naquela roda de vigília pelo resgate de uma pessoa. Há fragmentos de palavras, talvez pelo excesso de informações que nos rodeia. Há cobertores entre tintas, um símbolo de conforto, aconchego e carinho que se soterra nas realidades conturbadas das grandes cidades, cidades de abandonos e fugas.


UTNUBU poderia ser um grito contrário, pois estamos longe de ter algo parecido com a cultura de UBUNTU em função do resgate da humanidade. Não deseja ser pessimista nesta série de pinturas, apenas demonstrar de forma colorida, harmônica e contemporânea o que perdemos em desconsiderar a importância “do outro” em nossas vidas, é o que diz a artista.